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O humor sempre foi um espelho da sociedade, capaz de revelar contradições, desafiar padrões e criar conexões profundas.
Na era da cultura digital, essa força ganhou novos contornos: a comédia se tornou onipresente, fragmentada em múltiplos formatos e plataformas, mas também mais acessível, democrática e desafiada por tensões éticas e políticas.
Foi sobre esse cenário que o roteirista, ator e diretor Caíto Mainier conduziu a masterclass Novos formatos do humor no audiovisual e na cultura digital, realizada pela Pós PUC-Rio Digital no dia 1o de outubro.
Atual diretor artístico do núcleo de humor dos Estúdios Globo, Mainier acumula experiências em projetos icônicos como Larica Total (APCA 2009), Choque de Cultura, Falha de Cobertura, Lady Night (sete temporadas com Tatá Werneck), Cosme e Damião e, mais recentemente, Pablo e Luisão (2025).
Veja a seguir as principais ideias apresentadas durante a masterclass.
Segundo Mainier, a grande virada da comédia contemporânea está associada ao celular como ferramenta completa de produção. Do roteiro à gravação, da edição à publicação, tudo pode ser feito na palma da mão.
“Hoje, o celular é um estúdio inteiro no bolso. Ele grava, edita, sonoriza e publica. Isso muda tudo na maneira de produzir conteúdo”, pontuou.
Se antes o audiovisual dependia de portões de acesso, como orçamentos altos, ilhas de edição e grandes redes de TV e curadorias rígidas, agora qualquer criador pode gravar um vídeo curto, engraçado e viralizá-lo em segundos.
Para o humor, isso significa uma revolução: basta ser engraçado, não é preciso criar um material com uma produção de alto custo para conquistar milhões de visualizações.
Essa pulverização de vozes trouxe diversidade estética e temática, ampliou a representatividade de criadores periféricos e remodelou o mercado publicitário, que passou a enxergar na cultura digital novas formas de engajamento e monetização.
Um eixo central na fala do humorista é a valorização do erro e do improviso como motor criativo. Ele relembrou o processo de Larica Total, em que o personagem cozinhava sem saber cozinhar, incorporando os erros como parte da linguagem do programa.
“O erro fazia parte da linguagem. Queimou? Tudo bem. Ficou salgado? A gente acerta depois. Isso criava identificação com o público”, contou Mainier.
Essa abertura para o improviso aparece também em outros formatos. No Choque de Cultura, o improviso é trabalhado coletivamente no processo de escrita; no Lady Night, Tatá Werneck transforma o improviso em método de criação; já no Falha de Cobertura e em esquetes do Porta dos Fundos, o improviso surge do embate entre realidade e ficção.
Na cultura digital, essa estética da imperfeição se conecta à lógica dos memes, lives e vídeos caseiros: o público não busca acabamento técnico, mas autenticidade, humor rápido e identificação.
Se o celular democratizou a produção, os algoritmos das plataformas remodelaram a distribuição. O humor não circula mais pela lógica linear da TV aberta, mas por sistemas de recomendação que personalizam conteúdos segundo preferências individuais.
“Hoje, você pode ter milhões de seguidores e eles não receberem seu conteúdo. Quem decide a entrega é o algoritmo”, explicou Mainier.
Isso altera profundamente a forma como o humor é consumido. Memes, esquetes curtos e vídeos verticais tornam-se estratégias para alimentar a lógica algorítmica, em um fluxo constante e fragmentado.
Ao mesmo tempo, essa curadoria automatizada levanta questões éticas: quem define o que é visto? Quais vozes são amplificadas?
Para Caíto Mainier, o humor se beneficia da instantaneidade e da viralidade da cultura digital, mas precisa se adaptar ao ritmo acelerado e às métricas de engajamento que moldam a criação contemporânea.
Uma das discussões mais polêmicas da masterclass foi sobre os limites do humor . Para Mainier, a regra é clara: “Pode tudo. Mas você é responsável por tudo que faz. Humor é risco, e risco tem consequência”.
Essa perspectiva coloca o humorista no centro de tensões éticas e sociais. Piadas racistas, por exemplo, não são apenas “piadas”: carregam impactos sociais, jurídicos e políticos. A cultura digital amplia ainda mais essa dimensão, pois cada piada circula em escala massiva, alcançando públicos diversos e gerando reações imediatas.
Ao mesmo tempo, a liberdade criativa continua essencial. A provocação, a sátira e o estereótipo — elementos centrais da comédia — não desaparecem, mas precisam ser reconfigurados em diálogo com debates sobre identidade, representação e poder.
“A arte é potente. Ela transforma. Por isso, também carrega responsabilidade. Se pode gerar alegria e libertação, também pode normalizar preconceitos”, alertou o humorista.
Na cultura digital, o humor se manifesta de forma difusa e veloz. Um soco em uma luta de boxe, um vídeo doméstico ou uma frase mal interpretada podem se transformar em milhares de memes em poucas horas.
“O humor precisa ser engraçado, só isso. Ele não precisa ser longo, nem planejado, nem sofisticado. Basta ser engraçado, e pode virar eterno na forma de meme”, destacou Mainier.
Essa lógica desloca a comédia da estrutura clássica de programas ou filmes para a micronarrativa: vídeos de 15 segundos, esquetes de um minuto, reações instantâneas. Plataformas como TikTok, Instagram Reels e YouTube Shorts tornam-se palcos principais para esse tipo de humor, que privilegia a espontaneidade e a recorrência.
Outro ponto destacado por Mainier é a experimentação coletiva. Muitos de seus projetos nasceram de processos colaborativos, como roteiros escritos em tempo real por equipes em documentos compartilhados.
Essa forma de criação, que se conecta ao espírito participativo da cultura digital, favorece o surgimento de ideias inesperadas e formatos inovadores.
“Nem todo mundo precisa começar uma ideia, mas qualquer um pode terminá-la. A criação é coletiva, e o acaso tem um papel enorme”, concluiu.
Na prática, essa abertura para a experimentação aproxima o humor do ethos digital: redes colaborativas, remixagem de conteúdos, apropriação criativa e circulação descentralizada.
A masterclass de Caíto Mainier reforçou a ideia de que compreender a cultura digital passa necessariamente por compreender o papel do humor — um espaço onde a criatividade encontra sua potência máxima, mas também onde a responsabilidade se torna inevitável.
Cultura digital é o conjunto de práticas sociais, artísticas e comunicacionais transformadas pela tecnologia digital, pelo uso do celular e pelas plataformas online.
A cultura digital surgiu com a popularização da internet e das tecnologias digitais nos anos 1990, mas ganhou força a partir da expansão dos celulares, das redes sociais e da produção descentralizada de conteúdo.
Na cultura digital, o humor passou a ser produzido e consumido em formatos curtos, virais e colaborativos, com improviso, memes e forte presença nas redes sociais.
Entre os pontos positivos estão a democratização da produção, a diversidade de vozes e a circulação livre de ideias. Os negativos incluem excesso de desinformação, lógica algorítmica excludente e precarização de criadores.
A cultura digital impacta a sociedade ao transformar relações de trabalho, consumo, comunicação e arte, criando novas formas de interação, mas também novos desafios éticos e sociais.
Os algoritmos definem quais conteúdos aparecem para cada usuário, moldando a circulação do humor e criando disputas por relevância e engajamento.
*Conteúdo produzido com o apoio de IA.
Por Olivia Baldissera
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